Uenp incentiva alunos negros e de baixa renda a ingressarem no Ensino Superior 19/11/2021 - 16:54
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A Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) desenvolve um projeto de extensão para estimular o ingresso de estudantes no Ensino Superior, por meio de ações afirmativas. Direcionada aos jovens negros e de baixa renda do Ensino Médio, a iniciativa alcançou, até o momento, uma média de 90 alunos de duas escolas públicas de Jacarezinho e uma em Cambará.
A iniciativa consiste na gravação de conteúdos didáticos com orientações e informações sobre as cotas sociais (alunos de escolas públicas) e sociorraciais (alunos de escolas públicas e autodeclarados negros). Esse material audiovisual é distribuído para as escolas e exibido para os estudantes, em paralelo às atividades da grade curricular.
As ações afirmativas ou sistema de cotas consistem em políticas públicas que asseguram oportunidade de ingresso na educação superior para alguns grupos sociais menos favorecidos, incluindo uma série de fatores, como raça, gênero e deficiência física. Desde 2018, o vestibular da Uenp reserva 40% do total de vagas de todos os cursos de graduação para esses públicos.
Segundo a coordenadora do projeto, professora Rosiney Aparecida Lopes do Vale, do Centro de Letras, Comunicação e Artes da Uenp, os alunos de escolas públicas, por motivos variados, precisam de incentivos para continuar os estudos.
“Nosso foco é nos alunos negros, que pelas características fenotípicas podem concorrer no sistema de cotas sociais e raciais. A maior parte desse público também pode pleitear a isenção de pagamento da taxa de inscrição do vestibular”, destaca.
Doutora em Educação, ela explica que as gravações de alguns conteúdos foram repassadas ao Núcleo Regional de Educação (NRE) de Jacarezinho, para compartilhamento com as demais escolas de abrangência.
“Vamos produzir um novo material para promover o vestibular de 2022. A ideia é divulgar e atender o maior número de pessoas, apresentando a realidade acadêmica e incentivando esses jovens a prosseguirem com os estudos”, sinaliza a professora.
DIREITOS – A professora Geane Kantovitz, do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que também atua nas atividades do projeto, acrescenta que muitos estudantes desistem do sonho de ingressar na graduação por falta de conhecimento sobre seus direitos como cotistas.
“Oportunizar esse acesso ao Ensino Superior, por meio de políticas públicas, é determinante para construirmos uma universidade plural, intercultural, democrática e humana”, enfatiza.
Para a estudante Ana Vitória Colorado de Proença, do 4º ano do Ensino Médio integrado com o Curso Técnico em Informática, no Colégio Estadual Luiz Setti, de Jacarezinho, o ingresso na educação superior representa uma correção de desigualdades e garantia de direitos para essa parcela da população.
“Ainda é um desafio para os jovens negros e pardos ingressar numa faculdade, devido ao preconceito e à desigualdade social. O sistema de cotas é um direito adquirido e o projeto desenvolvido pela Uenp tem sido muito importante para auxiliar e motivar esses jovens”, afirma a futura universitária que, em 2022, pretende ingressar em uma graduação na área de Tecnologia da Informação.
Nas universidades estaduais do Paraná, os inscritos no sistema de cotas e os demais candidatos são submetidos aos mesmos critérios de aprovação e classificação nos vestibulares, inclusive com provas idênticas.
PROJETO – A ação de extensão da Uenp foi lançada no início da pandemia do novo coronavírus, ainda em 2020, por iniciativa de professores dos colegiados dos cursos de Letras e de História do Campus de Jacarezinho. Na época, estudos científicos apontavam que os pacientes pretos ou pardos e analfabetos tinham 3,8 vezes mais risco de óbito que os pacientes brancos e com nível superior.
O projeto envolve três universitárias voluntárias e uma bolsista, aluna do Curso de Letras Português – Espanhol, no âmbito do Programa de Apoio à inclusão Social (Pibis) da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná. Esse programa tem como objetivo estimular ações de pesquisa e extensão entre estudantes da graduação, oriundos de escolas públicas.
REFERÊNCIA – Além da Uenp, as outras seis instituições estaduais de ensino superior do Paraná dispõem de ações afirmativas nos processo seletivos dos cursos de graduação, entre vestibulares e Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Essas iniciativas contribuem para que grupos sociais historicamente excluídos e discriminados tenham oportunidade de participação em diferentes setores da sociedade: econômico, político, cultural e acadêmico.
A Universidade Estadual de Londrina (UEL) estabeleceu em 2004 a reserva de 40% das vagas para candidatos oriundos de escolas públicas e para quem se autodeclarar negro. Na Universidade Estadual de Maringá (UEM) o Sistema de Cotas Sociais foi regulamentado em 2010 para o ingresso de novos alunos na graduação.
A UEPG iniciou as discussões oficiais sobre a política de cotas no ano de 2005. Dois anos depois, aprovou uma resolução reservando vagas para candidatos de instituições públicas e para os autodeclarados negros. Em 2012, a instituição de ensino se tornou uma das primeiras no Brasil a implementar as cotas também na pós-graduação.
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) destina 50% das vagas para candidatos que tenham estudado o Ensino Médio integralmente em escolas públicas. Além disso, no caso do curso de licenciatura em Letras, os candidatos surdos têm prioridade de acesso, com 60% das vagas reservadas.
Na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), entre alguns critérios para os cotistas, são considerados os certificados de conclusão com base nos seguintes resultados: Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja); e exames de certificação de competência ou de avaliação de jovens e adultos de sistemas públicos de ensino.
Já a Universidade Estadual do Paraná (Unespar) aprovou em 2019 a política de cotas, reservando vagas e vestibular específico para os povos indígenas, em conformidade com a Lei Estadual 14.995/2006. Além desse público, a instituição destina 50% do total de vagas de cada curso de graduação para cotistas: 25% para alunos de escolas públicas; 20% para pretos e pardos de escolas públicas; e 5% para pessoas com deficiência.