UEPG faz história com formatura da 1ª turma de Medicina 13/07/2015 - 16:00
"A Universidade e a comunidade fazem reverência ao esforço de vocês, ao trabalho contínuo de aprendizagem, à persistência e, principalmente, à crença numa nova sociedade a partir dos conhecimentos adquiridos no ambiente universitário”. Com esta saudação, o reitor Carlos Luciano Sant’Ana Vargas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), impôs grau aos 31 formandos da primeira da turma do curso de Medicina da instituição, na sexta-feira (10). A cerimônia contou com a participação dos secretários estaduais da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Carlos Gomes, e da Saúde, Michele Caputo Neto, além de representantes de entidades médicas e autoridades universitárias.
O reitor fez também uma revisão dos fatos históricos anteriores, ao retorno do curso de Medicina, em 2009. “O nosso agradecimento a toda a comunidade ponta-grossense que se irmanou ao redor da UEPG em mobilização nunca vista para exigir o retorno do curso”, disse, relembrando o episódio de fechamento do curso em 2003 e a luta pela sua reabertura seis anos depois. Lembrou que, neste período, ainda na gestão do reitor Paulo Roberto Godoy, a UEPG atuou politicamente para garantir a construção do então Hospital Regional dentro do Campus de Uvaranas, pré-requisito imprescindível para a reabertura do curso.
Outro fato que merece ser destacado, segundo o reitor, é o prematuro reconhecimento do curso pelo Conselho Estadual de Educação, em 2013, o que permitiu de forma inédita que os graduados pudessem hoje o diploma de médico. “Isto foi possível graças ao especial empenho da professora Fabiana Postiglione Mansani, enquanto Diretora de Ensino da Prograd, e ainda, com o inestimável apoio da Comissão Permanente de Avaliação, bem como ao ótimo trabalho desenvolvido por professores e servidores”.
Falando aos novos médicos, disse que estes deixam a vida de estudante para tornarem-se profissionais. “É uma profunda mudança, que muito nos orgulha. Entretanto, o elo que nos une é eterno, pois a universidade não está apenas no lugar em que ela funciona e no momento em que vivemos nela. A universidade estará presente em cada um dos atos praticados pelos profissionais que ela ajudou a formar. Assim, a universidade continuará sendo o espaço para a superação do quadro de dificuldades num país de tantos contrastes. Daí a importância cada vez maior, de estarmos preparados para achar as respostas às indagações da sociedade”.
HISTÓRIA - A trajetória histórica de criação e implantação do curso de Medicina da UEPG foi destacada pela diretora do Setor de Ciências Biológicas e da Saúde, Fabiana Postiglione Mansani. “História que nasceu de um sonho, plantado em 6 de abril de 1968, com a criação da Faculdade de Medicina de Ponta Grossa, pelo então governador Paulo Pimentel, e que se concretiza neste 10 de julho de 2015, 47 anos depois”. Nos meandros dessa história, segundo a professora, ocorreram muitas lutas, dificuldades, desafios, protestos, greves, emoções e conquistas.
Fabiana Mansani também lembra os episódios de 2003, quando, após um início prematuro, ocorreu a frustração de um curso que não pode seguir em frente. Citou a assinatura do contrato para a construção do Hospital Regional no Campus da UEPG, em 2006; a assinatura a portaria para constituição da comissão de implantação do curso, em 2007; a autorização para a reabertura do curso e o primeiro vestibular em 2008; o ingresso da primeira turma, no segundo semestre de 2009; e o reconhecimento do curso, em 2013. “A cada ano implantado, formava-se uma equipe maior de professores, que abraçaram o ideal de construir um curso de excelência”, disse. Hoje o curso conta com 50 professores efetivos e 34 colaboradores.
“Nessa linha histórica, ressaltamos a importância da UEPG ter conquistado a administração do Hospital Universitário dos Campos Gerais, como interface entre o ensino e o serviço que oportunizou a inserção dos internatos médico”, prosseguiu a diretora do Setor de Saúde. Entre os avanços conquistados, comenta que, hoje, a UEPG já tem garantida a verticalização do ensino médico, com os cursos de residência ofertados pelo HU, e com a proposta de criação do mestrado em Ciências da Saúde, em fase de aprovação. “Assim entregamos hoje à comunidade 31 médicos que construíram conosco este capítulo da história do curso de Medicina da UEPG, acadêmicos médicos que foram desbravadores, corajosos, e irão deixar conosco a lembrança e a saudade de um tempo vivido”.
DOCÊNCIA - O paraninfo da turma, professor Délcio Caran Bartucci Filho, focou sua alocução na missão de ensinar. “Ser professor é muito mais do que transmitir conhecimento. Até porque, muitas e muitas vezes ao longo desses seis anos, vocês me ouviram insistir em que o conhecimento se adquire nos livros e periódicos, isto é, lendo, e nunca de ‘orelhada’”. Assim questiona a função do professor de Medicina. “Na sala de aula é sua função apresentar o assunto ao aluno e motivá-lo a estudar. Mas é nas aulas práticas nos ambulatórios, nas visitas à beira-do-leito e nos bate-papos que a atuação do professor se torna decisiva. Isto por que, na minha visão, a missão do professor é ensinar o aluno a colocar em prática e saber usar todo aquele conhecimento que adquiriu nos livros”.
De acordo com o professor, foi nesses momentos de prática que teve a oportunidade de transmitir aos alunos muito das suas ideias, pensamentos, filosofia de vida, sonhos, verdades e manias. Também a maneia de atender os pacientes, de como conversar com as famílias, da importância de apertar a mão dos pacientes, um gesto simples e tão significativo da prática médica. “Enfim, pude compartilhar com vocês toda a minha experiência, de vida e profissional. Isso, a meu ver, é imortalizar-se e vocês”.
Na sequência, Délcio Bartucci Filho, falou sobre a missão de ser médico, profissão nobre e brilhante para quem a exerce com dignidade e dedicação. “Acreditem, vocês têm todas as ferramentas para ter sucesso na vida profissional que hoje se inicia. Lembrem-se que o conhecimento científico é o ingrediente primordial, e nós temos que continuar estudando e nos atualizando, sempre e muito”, disse. Mas o conhecimento, segundo o professor, não é suficiente. “Os outros dois pontos importantes, que, junto com a técnica, vão formar o tripé que dá a base e a sustentação ao sucesso profissional são o comprometimento e a disponibilidade”.
Délcio Bartucci Filho afirma que o comprometimento em medicina é a vontade real de ajudar o paciente e de tentar – ao menos tentar, resolver o problema motivo da consulta. “Parece óbvio e fácil de realizar, mas não é isso que vemos na prática de muitos colegas”. Disse para os novos formados estarem sempre disponíveis. “O que dizer é que os pacientes devem ter acesso a vocês quando eles precisarem, naqueles momentos em que, às vezes, apenas um breve contato telefônico pode apaziguar a alma do paciente ou da família”.
Encerrando, o paraninfo da turma fez algumas considerações sobre o tempo. “Afinal, de que adiante sermos gabaritados, termos toda a condição técnica em determinado assunto, se não dispusermos de tempo para colocar todo o nosso conhecimento e experiência em prática”. Ele fala do tempo para fazer uma bela história, para examinar o paciente, para discutir possíveis diagnósticos, para tirar dúvidas sobre a doença, para ponderar sobre a necessidade de exames complementares, para explicar as opções de tratamento e eventuais efeitos colaterais das medicações e para conversar com a família.
“Sem tempo, vocês não conseguirão exercer uma medicina satisfatória e plena”, disse o paraninfo. E, para ele, aqui se encontra o paradoxo da medicina atual. “Pois, se hoje os pacientes e seus familiares exigem do médico tantas informações, o que acredito esteja correto, as consultas e os atendimentos estão ficando cada vez mais curtos”, disse, afirmando que nesse ponto está a raiz de muitos problemas da prática médica. “Então continuem estudando, sejam comprometidos e disponíveis e dediquem tempo, muito tempo aos pacientes de vocês. Porque os pacientes são a essência da nossa profissão”.
RECONHECIMENTO - Na história do curso de Medicina, secretário João Carlos Gomes (ex-reitor da UEPG por três gestões), por questão de justiça, destacou outros personagens importantes no processo de implantação do curso. Citou o ex-reitor Roberto Frederico Merhy que conseguiu junto ao governo do Estado a autorização para a implantação do curso em 2002. “Infelizmente ele foi interrompido logo a seguir”, disse, falando também do ex-reitor Paulo Roberto Godoy, que conseguiu a construção do Hospital Regional no espaço do campus da UEPG, um dos fatores mais importantes para o retorno do curso, em 2009.
Lembrou que, ao assumir a Reitoria em 2006, com apoio da comunidade universitária, de lideranças políticas e empresariais e a parceria da Associação Médica de Ponta Grossa, iniciou um trabalho na UEPG e junto ao governo do Estado para a volta do curso de Medicina. “E tive o privilégio de, em 2008, como reitor, todos juntos, conquistarmos o decreto governamental que autorizava o vestibular para o início do curso, em 2009, o que possibilitou que estejamos hoje formando a primeira turma de Medicina da UEPG”.
Como secretário, disse que no Paraná, o ensino superior é uma política de estado. “Em mais de 40 anos, desde o surgimento das primeiras universidades estaduais (UEPG, UEL e UEM) até os dias autuais, com a criação de mais quatro instituições (Unioeste, Unicentro, UENP e Unespar), o Estado vem investindo no ensino superior, com mais de 100 mil alunos matriculados nos seus 362 cursos de graduação, 162 mestrados e 67 doutorados”, disse. Para 2015, observa que a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tem um dos maiores orçamentos do Estado, com investimento de mais de R$ 2,5 bilhões.
Especificamente na área de Medicina, aponta o secretário, a rede de ensino superior estadual tem quatro cursos (UEL, UEM, Unioeste e UEPG) e um quinto em fase de implantação, no campus da Unioeste, em Francisco Beltrão. “Todos formando excelentes profissionais e, principalmente, mantendo importantes estruturas no atendimento da saúde da nossa população”. Como principal característica do sistema de ensino superior estadual, cita a interiorização do conhecimento, que proporcionou o surgimento de polos desenvolvimento em todos os quadrantes do estado.
Dirigindo-se aos novos médicos, lembrou que teve o privilégio de recepcioná-los, como reitor, no primeiro dia de aula, acompanhado de professores, funcionários e a estrutura administrativa da UEPG. “Hoje tenho o privilégio de estar com vocês novamente, e agora como secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, nesta última atividade como alunos de graduação da UEPG”. Por fim, parabenizou os formandos e seus pais, desejando-lhes sucesso profissional e pessoal. “Estamos entregando, para a comunidade, profissionais bem formados, éticos e comprometidos com a melhoria da saúde da nossa população”.
PIONEIROS - No seu discurso, a oradora da T1 (turma 1), Patrícia Rechetello Cavalheiro, chamou a atenção para o fato que esta foi a turma dos experimentos. “Tudo que era novo foi testado em nós. Algumas coisas deram certo, outras nem tanto. Assim veio nosso espírito de luta. A T1 ficou conhecida como a turma briguenta. Orgulho-me disso. São tantos indivíduos diferentes nessa turma, cada um trazendo em si uma história de vida totalmente diversa, mas, na hora de lutar por melhores condições de formação, íamos sempre juntos”.
Patrícia Cavalheiro reiterou que ser a primeira turma exigiu que o grupo fosse ouvido. “E, já que nos formamos para ser, além de médicos generalistas, profissionais críticos e reflexivos, isso aprendemos muito bem. Nos fizemos ouvir e participamos da construção desse curso. Mais do que as nossas fotos que ficarão no corredor da universidade como a primeira turma, ficarão as conquistas que obtivemos juntos”.
Para a oradora da turma, ela e seus colegas são, a partir de agora, trabalhadores que têm como função promover a saúde, prevenir e tratar doenças. “O adoecimento é um processo que, na maioria das vezes, em dimensões variáveis, envolve a dor e o sofrimento”, diz ao enfatizar que todos terão de conviver com isso, diariamente. “Vamos oferecer nosso conhecimento e nossa prática em um mundo desigual. Vamos levar saúde onde, muitas vezes, só há desesperança. Não será uma tarefa fácil”.
Ela segue, dizendo que devem ir além da técnica e extrapolar para a construção de um mundo melhor, que seja por inteiro mais saudável. Para Patrícia, levar saúde às pessoas exige mais que a prescrição de medicamentos. “Envolve a luta por uma sociedade justa e sem desigualdades, onde as pessoas tenham acesso a serviços de saúde pública de qualidade, trabalhos dignos, hábitos de vida adequados. Uma sociedade onde as pessoas sejam felizes e contribuam para a produção da vida com o máximo que puderem”.
Para alcançar esse objetivo, completa a nova médica, importa exercer a medicina com amor e carinho, tratando as pessoas todos os dias com amor e carinho. Importa lembrar que os pacientes são humanos frágeis, da mesma foram que os médicos. E, assim, importa tratá-los com atenção. “Não devemos ficar distantes deles, pois estamos na mesma luta diária. Tenhamos empatia pra entender de verdade o que a doença significa na vida da pessoa”.
Continua dizendo que é imprescindível também é ter humildade pra admitir erros e corrigi-los; pra admitir o que não se sabe e pedir ajuda. “Ainda temos muito a aprender, e muito a nos ajudar. Sei que poderemos sempre contar uns com os outros”, completou, para no final dizer que cada um à sua maneira, não deve perder o espírito instigado que a T1 teve por todos os anos do curso, sempre querendo melhorar. “E, muito mais que melhorar a nós mesmos diariamente, que melhoremos a vida do próximo e as coisas coletivas”.
Além de Patrícia Cavalheiro, integram a T1 de Medicina, os novos médicos Alexandre Bueno Merlini, Ana Lucia de Oliveira Prestes, Anne Caroline Hungaro, Beatriz Zampar, Camila Gabriella da Costa Belonci, Carolina Sartini Stocco, Cassim de Souza Anderle, Claudio Marciano Grabicoski, Dayana Talita Galdino, Douglas Squizatto Leite, Elaine Cristina Miglorini, Ewelyn Adriane Chaves de Araujo, Geisiela Araceli Campanerutti, Henrique Álvaro Hoffmann, Jissa Jeanete Luciano, Joelmir Colman, Josue Abrão Maftum, Juliana da Silva Geraldino, Lucas Kraeski Krum, Lucilene Fagundes da Silva Martins, Maria Fernanda Gauer, Mariana Sandri Schumacher, Matheus Kiszka Scheffer, Natalia Fabiane Ridão Curty, Natasha Lure Bueno de Camargo, Rebecca Saray Marchesini Stival, Rodrigo Gomes Penha, Taysa Katelline Danilau Ostroski, Thiago Teza Merini, Tiago Francisco Meleiro Zubiolo, Vanessa Bertolli Lange.
A cerimônia de colação de grau registrou a presença dos professores Delcio Caran Bartucci Filho (Paraninfo), Marcelo Derbli Schafranski (Patrono), José Koehler (homenageado como Nome de Turma e primeiro chefe do curso de Medicina), Ana Paula Ditzel (Paraninfa Espiritual), além de homenagens especiais aos professores Gilberto Baroni e Êrika Rodrigues, ao agente universitário Oscar Neri Matos e ao médico residente Jivago Sabatini. O graduando Joelmir Colman prestou o juramento do curso.