UEL integra projeto nacional que busca antecipar riscos à saúde 15/08/2019 - 16:35

Pesquisadores da área de saúde e de estatística da Universidade Estadual de Londrina (UEL) estão entre os contemplados no projeto temático ReSEARCH-Recognizing Signatures of the Exposome to Anticipate the Risks for a Continuous Health, que em português pode ser traduzido como Do Biomonitoramento ao Reconhecimento de Assinaturas do Exposoma Humano Visando Antecipar Riscos para uma Saúde Contínua.

O projeto foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e deverá receber investimentos da ordem de R$ 10 milhões para o desenvolvimento de estudos de análise do exposoma humano, buscando identificar biomarcadores, indicadores mensuráveis da severidade ou da presença de algum estado de doença e possíveis impactos na saúde.

Os pesquisadores da UEL serão colaboradores do subprojeto Cardiogenes, que prevê a realização de cerca de 18 mil exames laboratoriais, de coletas realizadas na cidade de Cambé. Parte das amostras já foi coletada em 900 pacientes e deverá ser analisada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), onde fica a coordenação do projeto.

A pesquisa desenvolvida no norte do Paraná pretende identificar biomarcadores para serem correlacionados com problemas cardiovasculares, como aumento de pressão arterial, por exemplo. Integram o subprojeto da UEL os professores Tiago Severo Peixe, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas; Arthur Mesas, do Departamento de Saúde Coletiva, ambos do Centro de Ciências da Saúde (CCS), e Mariana Urbano, do Departamento de Estatística, do Cento de Ciências Exatas (CCE). O projeto tem previsão de ser concluído em 2024.

Segundo o professor Tiago Peixe, trata-se de um grande projeto "guarda chuva", formado por seis subprojetos distribuídos em várias regiões brasileiras. Na UEL, o foco é a prevenção de doenças cardiovasculares. Os demais subprojetos focam outras condições de saúde e de vida como problemas na gravidez, acometimentos à população ribeirinha da Amazônia e obesidade. Também serão pesquisadas doenças relacionadas ao contato frequente com substâncias químicas e problemas de saúde recorrentes em grandes metrópoles. Ao todo 52 pesquisadores brasileiros e do exterior estão envolvidos no trabalho.

"Faremos um estudo de ampla janela, com análises diversas para correlacionar com doenças em determinados órgãos e sistemas humanos", define o professor Tiago, acrescentando que novos projetos deverão ser originados a partir dos resultados que serão apresentados. Ele adianta que já existe uma aproximação com uma startup norte americana interessada em produzir um Aplicativo para a contagem de calorias.

Esta tecnologia seria uma ferramenta importante para pacientes que necessitam, por exemplo, perder peso. "É um acompanhamento que facilitaria muito para as pessoas que precisam controlar o consumo de calorias nas suas refeições", comenta o pesquisador. Ele explica que o projeto poderá beneficiar também pacientes que sofrem consequências em virtude de exposições a metais como o chumbo.

"Nesse caso o paciente pode ter propensão a desenvolver doenças cardíacas como indução a placas de ateromas, que levam progressivamente à diminuição do diâmetro do vaso", explica. Em virtude da pesquisa considerar um amplo espectro, atendendo várias áreas, ele acredita que futuramente os resultados gerem marcadores que poderão ser considerados em exames preventivos. Para se ter uma dimensão de volume, no total o projeto realizará cerca de 100 mil exames em pacientes distribuídos em várias regiões brasileiras. "Consideramos este trabalho um esforço integrado de várias equipes que possivelmente vai apontar novas alternativas de diagnóstico", comenta.

Fatores de risco

Para o professor Arthur Mesas, do Departamento de Saúde Coletiva, a escolha do município de Cambé se deu pela possibilidade de abranger a área urbana do município em sua totalidade, que apresenta relativa estabilidade populacional, baixo índice de verticalização residencial, disponibilidade de dados populacionais atualizados para fins de amostragem e do interesse e apoio do poder público municipal, por meio da Secretaria Municipal de Saúde.

O professor Arhur desenvolve estudos sobre qualidade do sono, coordenando o grupo de pesquisa "Saúde, estilo de vida e trabalho", do CNPq, membro da Associação Brasileira do Sono, respondendo atualmente pela Diretoria de Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PROPPG) da UEL. Segundo ele, tanto o acúmulo de metais, traços no sangue, quanto os distúrbios do sono aumentam o risco cardiovascular isoladamente; a ocorrência simultânea dessas condições pode potencializar esse risco.

"Problemas do sono, como insônia, sonolência diurna e apneia do sono estão associados com maior risco de problemas cardiovasculares, como hipertensão, infarto, arritmias e até mesmo de mortalidade", explica. Ainda segundo o pesquisador, considerando que as doenças cardiovasculares compõem a principal causa de morte em todo o mundo, o projeto tem grande potencial para ampliar o conhecimento quanto aos fatores ambientais, ocupacionais e comportamentais que aumentam o risco desses problemas. "Isso favorecerá o desenvolvimento de estratégias individuais e populacionais para a prevenção e o enfrentamento de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, os quais geram impactos negativos tanto para o paciente quanto para o serviço de saúde", considera ele. 

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