Projeto da UEM conecta meninas com a ciência e tecnologia 29/09/2020 - 14:24
Um projeto de extensão da Universidade Estadual de Maringá (UEM) conecta meninas e mulheres ao universo da Internet das Coisas. Trata-se do “manna_academy: uma rede de estímulo à participação do público feminino em engenharias, computação e microeletrônica”. A iniciativa, iniciada em 2008, é uma ponte entre o ensino superior e a educação básica com resultados muito positivos.
O desequilíbrio de gênero que impera em algumas profissões preocupa autoridades do planeta. Reverter esse quadro figura como um item da lista da Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos 17 objetivos para mudar o mundo. Uma das sugestões da ONU para alcançar a igualdade de gênero e empoderar meninas e mulheres é aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação.
O projeto “manna_academy”, da UEM, vai além e, por meio da extensão universitária, articula uma força-tarefa que capacita meninas e mulheres a desenvolverem soluções para a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things, na sigla em inglês), robótica, inteligência artificial, entre outros assuntos. Segundo a professora da UEM e presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro), Linnyer Aylon, uma reportagem do site IOT Business News, de agosto deste ano, mostrou que as mulheres que trabalham nesta área estão impulsionando a inovação.
“Mesmo tendo recebido, em 2018, apenas 2,3% de investimento de capital de risco, as mulheres acabaram gerando o dobro de receita. As meninas estão atuando na área de diagnóstico e manutenção de equipamentos, desenvolvimento de hardware e software para drones, além de proporem opções para o setor de femtech; isto é, soluções digitais feitas por mulheres para as necessidades das mulheres. Diante deste panorama, as ações de extensão do ‘manna_academy’ buscaram incentivar a presença das mulheres na tecnologia. Isso aconteceu em comunidades externas, oriundas do ensino básico e superior”, informou Linnyer.
CNPq – A iniciativa do Grupo Manna de estimular meninas recebeu aporte financeiro a partir da Chamada CNPq/MCTIC nº 31/2018 - Meninas nas Ciências, Exatas, Engenharias e Computação. Porém, o grupo, que é membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Sistemas Micro e Nanoeletrônicos (INCT - NAMITEC) e certificado pela SBMicro, possui mais de 20 anos de experiência e mais de 230 integrantes, dentre eles 23 bolsistas mulheres selecionadas para atuarem no projeto “manna_academy” financiado pelo CNPq.
Apesar do subsídio recebido em 2019, a professora Linnyer Aylon vem liderando iniciativas de aproximação de meninas e mulheres com a ciência, desde 2008. Por este trabalho, no mês de março de 2013, recebeu o prêmio IEEE Women in Engineering, entregue pelo Institute of Eletrical and Eletronics Engineers (IEEE). A láurea foi um reconhecimento por sua contribuição na área de sistemas de computação, que está na intersecção da ciência da computação e da microeletrônica, e pela representação das mulheres na ciência.
A versão específica do “manna_academy” financiada pelo CNPq, que encerrou o ciclo em 2020, foi organizada em três etapas. A primeira envolveu a atração e capacitação de 15 bolsistas de iniciação científica júnior, alunas de escolas públicas; cinco bolsistas de apoio técnico em extensão no país, professoras destas escolas; e mais três bolsistas de iniciação científica, alunas dos cursos de graduação da UEM, Instituto Federal do Paraná (IFPR), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), instituições parceiras da iniciativa. Além destas, muitos professores, professoras, alunas e alunos da Educação Básica, graduação e pós-graduação foram recebidos na equipe.
“A primeira etapa durou aproximadamente seis meses e incluiu a avaliação in loco das escolas e instituições parceiras; o planejamento e elaboração dos planos de trabalho; a capacitação das bolsistas; a formatação das oficinas; e o desenvolvimento de vários protótipos, entre eles, o de uma casa inteligente conectada à internet”.
O protótipo, denominado “MannaHome”, visou o desenvolvimento de um modelo móvel e de compreensão bastante instintiva, que pudesse ter sistemas desenvolvidos paralelamente pelas equipes e que fossem passíveis de integração. “As bolsistas foram responsáveis pelo desenvolvimento do sistema de captação e abastecimento de água; de irrigação de plantas e solos; de energia solar fotovoltaica off grid; do sistema de monitoramento de gás; de controle de acesso; e do sistema de controle de perímetro”, explicou professora Daniela Flôr, professora do IFPR, campus Paranavaí, e pós-doutoranda na UEM.
Pesquisa – Na segunda etapa, as bolsistas foram às comunidades e apresentaram o cenário de desigualdade que as mulheres enfrentam na tecnologia e discutiram o empoderamento e a capacidade que elas adquiriram em desenvolver soluções de IoT, durante a atuação no “manna_academy”. “As meninas selecionadas ainda foram incentivadas a participar de eventos de inovação, feiras de ciência, feiras agropecuárias e mostra de profissões. O portfólio de ações do nosso grupo ainda incluiu uma intervenção educacional por meio de oficinas para os docentes e discentes das escolas públicas parceiras”, destacou Alexandro Luiz Dias, da UTFPR, campus Campo Mourão, que compõe o comitê gestor do “manna_academy”, na instituição.
Por fim, com o objetivo de captar a opinião das bolsistas acerca da temática e das ações do projeto, foi compartilhado um questionário de avaliação. Essa terceira etapa queria compreender a percepção do grupo sobre a atuação feminina em áreas tecnológicas e sobre projetos de engajamento feminino no universo da tecnologia.
A realização da pesquisa teve o retorno de bolsistas do ensino médio e da graduação. Foi possível perceber que uma parcela expressiva delas (92,3%) já tinha noção de que o público feminino era minoria na tecnologia. Porém, apenas 23,1%, relataram não vislumbrar oportunidades de trabalho para mulheres; e as três principais razões para tal foram: a naturalização do estereótipo masculino (76,9%); a falta de encorajamento familiar (53,8%); e o descrédito dos colegas (53,8%). Para 85% das bolsistas a experiência em participar de iniciativas de engajamento foi novidade e 92,3% delas declararam que acharam muito importante a realização do projeto.
Depoimentos do relatório – A bolsista ICJr 1, de 15 anos, declarou a importância do projeto para o seu crescimento intelectual. “O contato com componentes eletrônicos, desenvolvimento de circuitos, programação e internet das coisas promovem uma visão diferente para o estudante e, principalmente, para garotas, visto que o conhecimento de uma nova área proporciona um desenvolvimento intelectual maior”.
O destaque para a bolsista ICJr 2, de 16 anos, foi a característica interdisciplinar do projeto. “Durante a participação, obtive conhecimentos das áreas de física, eletrodinâmica, robótica, programação e eletrônica, criando em mim o interesse em áreas da tecnologia e me dando a possibilidade de imaginar todos os projetos que posso desenvolver no decorrer de minha vida acadêmica e profissional.”
A valorização do papel extensionista do “manna_academy” está fortemente presente no depoimento de uma bolsista de iniciação científica, de 19 anos. “Com a participação no projeto, pude ter contato com as meninas que estão construindo seus interesses e prestes a tomar decisões quanto ao que cursar na vida acadêmica. Mesmo que as alunas não sigam na área da tecnologia, pude mostrar a importância da eletrônica e da programação em outras áreas dos saberes. Elas poderão utilizar esses aprendizados em diversos momentos de suas vidas, independente da formação escolhida.”
Abrangência e repercussão – Por meio de palestras, cursos, oficinas e exposições, pelo menos 12 mil pessoas, entre elas, 480 alunas e 40 professoras da educação básica, foram beneficiadas pelo “manna_academy”, neste etapa do projeto, nas cidades de Maringá, Paranavaí, Jandaia do Sul, Apucarana, Mandaguari, São Pedro do Ivaí, Campo Mourão, Guarapuava, Marialva, Cianorte, Presidente Epitácio (São Paulo), Florestal (MG) e Brasília (DF).
“A experiência foi exitosa ao discutir desigualdade de gênero nas profissões, fornecer capacitação técnica, capilarizar ações e promover diálogos com a sociedade de várias cidades do Paraná, engajando e empoderando o público feminino, além de democratizar a área tecnológica como uma excelente opção de atuação profissional para mulheres, como mostram os resultados. Estes nos sugerem que o interesse de meninas e mulheres pela tecnologia pode ser estimulado pela IoT, e o que precisa são iniciativas que as aproximem deste universo e o projeto de extensão “manna_academy” cumpriu satisfatoriamente este papel”, comemorou a professora Linnyer.
Para a pró-reitora de Extensão e Cultura da UEM, Débora Mello Sant’Ana, as ações de extensão que promovem a inclusão de estudantes no mundo da tecnologia são muito importantes. “Expandir a participação de meninas é ainda mais relevante diante da menor inserção feminina no cenário da tecnologia. Todos são capazes de aprender e se desenvolver em todas as áreas do conhecimento, e a representatividade masculina e feminina dá equilíbrio ao desenvolvimento do mundo tecnológico. O fato de este projeto ter sido selecionado pelo CNPq atesta sua qualidade e importância e, com o encerramento desta etapa, estamos comemorando os bons resultados. Só tenho que parabenizar a todos os envolvidos”, conclui a pró-reitora.