Projeto da UEL usa larva de mariposa como cobaia em laboratório
20/06/2013 - 14:50

Embora não seja exatamente novidade para a ciência, o uso de larvas de insetos em laboratórios ainda é pouco difundido e até mesmo pesquisado no Brasil. A Universidade Estadual de Londrina segue a linha de universidades como a USP e UNESP e passou a desenvolver pesquisas na busca de formas adequadas e menos cruéis para realizar pesquisas com seres vivos. Um projeto desenvolvido na UEL aponta o uso de larvas de mariposas para substituir em parte às tradicionais cobaias, largamente utilizadas nos laboratórios, que custam mais caro e exigem infraestrutura adequada de gaiolas e climatização.

O projeto "Modelos Alternativos de Infecção e Teste de Substâncias: larvas de Galleria Mellonella", desenvolvido no Laboratório de Micologia Médica e Microbiologia Bucal do Departamento de Microbiologia no Centro de Ciências Biológicas da UEL, já comprovou que as larvas significam economia de tempo e de recursos. O coordenador do trabalho, professor Ricardo Sérgio Couto de Almeida, explica que as larvas respondem com rapidez na obtenção de dados. Em 48 horas é possível colher os resultados de um estudo comparativo. Bem mais rápido do que a reação em um camundongo que pode demorar até semanas. Do ponto de vista econômico, as vantagens estão na estrutura necessária, que dispensa gaiola e climatização adequadas. Enquanto uma cobaia custa a partir de R$ 2,00 (podendo chegar a R$ 20,00 em animais geneticamente modificados), uma larva de mariposa tem custo estimado de apenas R$ 0,25 cada uma.

"Vale ressaltar que o camundongo fica feliz, triste, sente dor, enfim sofre porque é um animal senciente", afirma o coordenador do projeto. Um ser senciente é aquele que pode sofrer fisicamente ou psiquicamente, e que se caracteriza por possuir um sistema nervoso e um cérebro desenvolvidos. No caso das larvas, elas são seres invertebrados, desprovidos de cérebro. Outra vantagem das larvas, é que sua utilização dispensa pessoal especializado e pareceres de Comitês de Ética.

O pesquisador afirma que a proposta não é substituir as tradicionais cobaias, mas apresentar alternativas para algumas situações onde a larva corresponde bem, como a investigação de bactérias e fungos que causam doenças ao homem. Além disso, elas podem ser utilizadas para selecionar as melhores substâncias a serem testadas nos camundongos, reduzindo drasticamente o número de animais utilizados no teste de novos medicamentos, como por exemplo, antibióticos e outras substâncias antimicrobianas.

O professor Ricardo Almeida iniciou estes estudos em 2009, nos Estados Unidos, quando participou de um curso de verão sobre Micologia Molecular, com o professor Eleftherios Mylonakis, considerado um dos pioneiros em métodos alternativos. De volta ao Brasil, o pesquisador buscou as primeiras larvas no Instituto Biológico de Campinas (SP), buscando dar início aos primeiros ensaios.

Hoje as larvas de mariposa são criadas no próprio laboratório, onde o professor desenvolve os estudos sobre a alternativa. Atualmente outros três laboratórios do CCB já estão utilizando as larvas, com bons resultados. A proposta é ampliar o raio de ação, fornecendo material para pesquisadores interessados.