Projeto da UEL incentiva ensino de multiplicação com uso de jogo virtual 02/10/2019 - 09:41

Projeto da UEL usa jogo de dominó virtual para reforçar o ensino de Matemática de crianças do Ensino Fundamental, além de incentivar o gosto por uma das operações fundamentais, ou seja, a multiplicação. É o jogo "Korsan", que foi criado dentro do projeto de pesquisa "Jogo de dominó digital adaptado para o ensino de multiplicação", sob coordenação da professora Silvia Regina de Souza Arrabal Gil, do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento, do Centro de Ciências Biológicas (CCB).

Conforme explica a coordenadora do projeto, o jogo educativo visa facilitar o ensino e também mostrar que "o aprendizado pode ser divertido". Segundo ela, com base em estudos da Psicologia aplicada ao contexto da educação, o jogo de dominó "Korsan" permite o emparelhamento de peças, a partir da história de um pirata que deseja resgatar o tesouro em uma ilha.

No caso, a criança é convidada a ajudar o pirata na missão, que consiste em resolver problemas de multiplicação para chegar ao tesouro escondido. No jogo, operações de multiplicação são emparelhadas com pontos e operações em formato de balança, com incógnitas em diferentes posições.

Para avaliar a efetividade do jogo, três crianças do 3º ano do Ensino Fundamental, que não tiveram acesso aos conteúdos de multiplicação na escola, foram selecionadas. Antes de começarem a jogar, a estudante do curso de Psicologia, Maria Luiza Ferreira Rocha, bolsista de Iniciação Científica (IC) e auxiliar na coleta dos dados da pesquisa, apresentou às crianças operações de multiplicação que seriam ensinadas por meio do jogo. O objetivo foi avaliar se elas sabiam resolver as operações propostas.

Duas delas conseguiram resolver algumas operações e uma criança não resolveu nenhuma. Em seguida, elas jogaram o Korsan e, novamente, o desempenho das crianças com essas operações foi avaliado. Após o uso do jogo, elas não apenas foram capazes de resolver mais operações corretamente, mas mostraram a emergência de relações que não haviam sido diretamente ensinadas.

Na avaliação da professora Silvia, os resultados obtidos com os três alunos foram surpreendentes. Os dois, que já conseguiam resolver algumas contas, conseguiram 100% de acerto após brincarem com o jogo educativo. Já o aluno que não conseguiu resolver nenhuma operação no início do estudo, ele acertou 80% das contas. "No final do estudo, os alunos não precisavam de um recurso físico, como contar nos dedos ou usar objetos, para resolver a conta", afirma. No entanto, segundo a professora, para a confirmação da eficiência do jogo, outras três crianças ainda devem participar do estudo nos próximos meses.

A professora informa que o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) apontou, no último levantamento, que 70% dos alunos têm desempenho mediano na disciplina no país. Para ela, isso mostra que o método de ensino empregado muitas vezes é falho. Ela ainda afirma que a maioria das crianças sente medo e insegurança. Portanto, o foco da pesquisa que incentiva a adoção de jogos é tornar o aprendizado mais divertido. "Se conseguirmos ensinar essas crianças, temos um trabalho extremamente relevante, socialmente falando, tendo em vista que muitas delas têm dificuldade e consideram a matemática uma disciplina difícil", defende a Silvia.

Jogos educativos - Silvia Arrabal explica que o diferencial do "Korsan", quando comparado aos jogos educativos disponíveis, reside no fato de que ele foi criado a partir de dados de pesquisa e embasados por uma teoria de aprendizagem. Eles precisam ser elaborados com a clareza do que querem ensinar, bem como a efetividade deve ser avaliada. Para isso, são feitos muitos testes, até chegar em uma versão que possa realmente trazer resultados positivos para o aprendizado.

A utilização de jogos para o ensino, conforme destaca a professora, leva as crianças ao engajamento melhor no que diz respeito as atividades que ela realiza, e quando jogados em grupo podem promover a interação entre elas. Jogos educativos podem ser também usados por pais, promovendo a interação as famílias entre pais e filhos. "Não basta só o jogo ensinar, ele deve ser divertido, essa é a sua finalidade", explica a professora.

Embora os jogos sejam úteis e reforçam os processos de ensino e aprendizagem, a professora alerta que eles não substituem o papel do professor na sala de aula. "Ele é complementar", reitera a pesquisadora.

Também integrou o projeto a então mestranda do Programa de Pós-graduação em Análise do Comportamento da UEL, Gabriele Gris, atualmente doutoranda da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Pesquisas - Os estudos nessa área de jogos de matemática começaram em 2014. Primeiramente, foi desenvolvido um jogo para operações de adição, com a mestranda Gabriele Gris, para crianças de 1º ano do Ensino Fundamental. Na sequência, foram ampliados os estudos para a subtração. A pesquisa com operações de multiplicação é realizada em parceria com o professor João dos Santos Carmo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A programação e a interface do jogo foram desenvolvidas em conjunto com profissionais das áreas de Design e Computação (LabConde). A professora conta que investiu R$ 8 mil para que a primeira versão do jogo pudesse se tornar realidade. Atualmente, conseguiram financiamento da Fundação Araucária, o que permitiu evoluir a interface, o enredo da história e criar algumas imagens 3D.

As pesquisas nessa área foram desenvolvidas pelo Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Jogos Educativos (LADEJE), coordenado pela professora Silvia Arrabal. O LADEJE contabiliza vários jogos educativos. Alguns deles foram criados em parceria com o pessoal do LabConde, como por exemplo, o jogo de basquete em tabuleiro, chamado de Liga Escolar Nacional de Basquete sem Bullying, que foca em questões deste tipo de violência. Todos eles estão disponíveis para consulta no site Jogos Educativos.