Pesquisador da UEPG realiza estudos internacionais sobre aspectos históricos da talidomida 14/01/2020 - 10:37
Buscando compreender os efeitos talidomida em diversos países e suas consequências para a indústria farmacêutica, o professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) José Augusto Leandro desenvolveu estudos sobre o medicamento nas áreas das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
As pesquisas foram publicadas no site “Global Project on the History of Thalidomide”, vinculado ao Núcleo de Estudos em Saúde Pública, Doença e Assistência em Saúde no Brasil (NESPDAS). O portal reúne pesquisas em livros, artigos e dissertações de mestrado e doutorado sobre a história do medicamento.
“O Global Project on the History of Thalidomide auxilia na manutenção da memória do desastre relacionado ao consumo da talidomida, sobretudo para as gerações mais jovens. Identificamos uma necessidade de mais estudos pelo olhar das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas”, destaca o professor José Augusto Leandro.
O programa de pós-graduação já desenvolveu, desde 2014, duas teses de doutorado, além de artigos científicos, que analisam os aspectos sociais e históricos dos efeitos causados pelo remédio no Brasil.
HISTÓRICO - A talidomida foi lançada no mercado mundial a partir da Alemanha, em 1957 (em 1956 já circulava como medicamento contra gripe, chamado Grippex) e era prescrita pela sua propriedade antiemética (evitando vômitos) e soporífera (para induzir o sono) apresentada como um medicamento seguro e sem efeitos colaterais danosos.
Porém, deficiências congênitas afetaram milhares de bebês nascidos de mães que consumiram a talidomida durante seus primeiros meses de gestação. Em adultos também foram registrados efeitos adversos decorrentes do uso do produto, principalmente o desenvolvimento de neuropatia periférica.
Estima-se que entre 80 a 100 mil bebês tenham sido afetados pelos efeitos colaterais do medicamento. Desses, apenas 15 mil sobreviveram. Depois da Alemanha e do Reino Unido, o Brasil é o país mais afetado pelos efeitos do medicamento.
O professor destaca que a pesquisa surgiu do desdobramento de estudos sobre a história da hanseníase. “O tema me ajudou a compreender de maneira mais ampla ao analisar os efeitos da talidomida no âmbito local e nacional. Existem diversas conexões entre a globalização e as transformações da indústria farmacêutica”.
No ano de 2021 a comprovação de que a talidomida foi responsável por malformações congênitas em bebês completa 60 anos. “Muitos estudos ainda valorizam a utilização do remédio – esses estudos apontam que, de fato, a droga é eficaz no auxílio ao tratamento de algumas doenças decorrentes do HIV (Aids), mieloma múltiplo e hanseníase, entre outras. Mas é nosso dever como historiador também relembrar que em um determinado momento da história desse medicamento não houve um controle criterioso sobre os seus efeitos colaterais e fiscalização rigorosa sobre a sua circulação. Isso gerou consequências danosas para milhares de indivíduos e suas famílias”.