Jornalismo especializado contribui para a popularização da ciência 13/10/2009 - 16:53

A complexidade, os avanços e a presença cada vez mais constante da ciência e da tecnologia no cotidiano das pessoas exigem dos jornalistas que atuam no meio uma formação profissional qualificada e precisa. Em síntese, foram estes os principais pontos da conferência “Jornalismo Científico: formação e mercado” da jornalista, professora e pesquisadora da Universidade de Campinas (Labjor/Unicamp) e da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) Graça Caldas, durante o terceiro encontro de Ciência e Tecnologia, realizado em Maringá.
Os principais marcos da divulgação científica no Brasil, começando com José Reis na Folha de São Paulo, na década de 40, até a atualidade, também foram abordados pela jornalista. “No século XXI verificamos um interesse crescente da população pelos avanços e promessas da ciência e tecnologia e mobilização de cientistas, jornalistas e governo em prol da popularização do conhecimento científico e melhoria da formação de uma cultura científica no país”, afirmou.
Graça Caldas defendeu ainda a necessidade de uma nova visão ética e social para o profissional da comunicação: “O pragmatismo formador dos conteúdos limita o papel dos jornalistas a uma perspectiva meramente funcionalista”, criticou. “É necessário recuperar a dimensão ética e histórica do processo de produção da ciência para uma melhor compreensão dos fazeres da ciência”, acrescentou. Citando Paulo Freire, sublinhou que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.
Como co-autora de um projeto de formação proposta pela Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Graça Caldas sugeriu aos participantes do segundo painel de jornalismo científico entender a ciência e o jornalismo como construções sociais, bem como: “estabelecer links fortes com a sociologia e a filosofia da ciência; fortalecer as bases de compreensão do método científico, tirando o foco dos resultados e redirecionando os olhares para a compreensão dos processos e das rotinas de produção; construir esforços de renovação de linguagem, assim como laboratórios de experimentação, rompendo com os formatos tradicionais, herméticos e sem vida, sem perder de vista a questão antropoética – a ética da sustentabilidade”.
A sua conferência, praticamente uma aula de jornalismo segundo alguns participantes do painel, também explorou erros e acertos da profissão, filtros, versões e consensos fabricados, como por exemplo, os relativos ao desastre ambiental ocorrido no Rio de Janeiro, em 2005. “É preciso formar leitores e telespectadores capazes de compreenderem o mundo em que vivem, mas o mundo real e não o mundo relatado”. Para Graça Caldas, é preciso separar a divulgação científica do marketing de produtos de última geração.
Graça Caldas também defendeu o diploma para jornalista e um mestrado profissional (ou latu sensu) para profissionais de outras áreas do conhecimento como forma de aprimorar a divulgação científica junto à opinião pública.