Janeiro vira mês de imersão na rotina hospitalar dos acadêmicos de Medicina da UEPG 25/01/2022 - 17:20

O retorno às atividades é diferente para um grupo de 35 estudantes de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Durante as férias, ao invés do descanso, eles realizaram um curso no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais.

A iniciativa rendeu uma imersão na rotina hospitalar, em especialidades que contemplam o currículo básico nos setores de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Centro Cirúrgico, Ambulatório Clínico e Ambulatório Cirúrgico. A atividade iniciou no dia 20 de dezembro e se encerra nesta sexta-feira (28), com apoio e autorização da Direção Acadêmica do HU.

Os alunos enfatizam o ganho de experiências proporcionado pelas atividades práticas. Milena Christine Krol do Nascimento está no 3º ano de Medicina e descreve que conhecer de perto a rotina de um médico é, também, pensar no próprio futuro. “Eles nos ajudam a entender como vamos trabalhar no futuro e o que faremos”, conta. Milena diz que estreitou a convivência com os pacientes. “Acabamos nos ligando a eles, lidamos com essa fase do luto que alguns familiares passam e isso acaba nos gerando uma empatia”.

A rotina é dividida em oito horas diárias, cinco dias por semana, com os alunos divididos entre os cinco setores. “Vemos a evolução dos pacientes, como estão os exames laboratoriais ou de imagens, conversamos com o paciente, além de discutirmos o caso com o médico”, explica a universitária. “Quando a gente acompanha um paciente, temos mais interesse em estudar a doença que o acomete, o que deixa o trabalho muito mais interessante. Aprendi e me interessei muito mais pela teoria quando conheci os pacientes”.

PRÁTICA – O projeto do curso de férias foi pensado pela médica e professora de medicina da UEPG, Elise dos Santos Reis. O objetivo é oportunizar ao aluno o conhecimento prático, que possibilite a vivência real em um hospital. “O aluno de medicina sai hoje muito pouco preparado na parte prática”, salienta Elise. A partir do anseio de proporcionar conhecimento para além da teoria, a professora viu o período de janeiro como uma oportunidade de contribuir com o HU.

“O Hospital tem menos profissionais em janeiro, por conta das férias. Isso permitiu que tivesse essa união e os alunos convivessem com a prática”, afirma. Elise ressalta que o curso é uma relação ganha-ganha. “É uma troca do conhecimento, onde o aluno aprende e os profissionais do Hospital recebem ajuda nas demandas”.

“Ultimamente, ando pensando muito no meu futuro como médico e cheguei à conclusão de que estaria mais tranquilo nas férias evoluindo um pouco como profissional”, declara Erich Giuliano Locastre, aluno do terceiro ano de Medicina. Erich escolheu aprender a rotina da UTI durante o curso. “Escolhi a UTI porque é o lugar onde tenho menos contato na faculdade, para entender como funciona a rotina e conhecer os equipamentos que a gente sempre ouve falar, principalmente agora na Covid-19”, explica.

O maior aprendizado do acadêmico foi entender o quanto é pesado para um paciente estar internado em uma UTI. “Senti um clima mais desafiador para o médico, devido à situação do paciente”. Erich também desmistificou a parte da clínica médica. “Dá para o médico atuar de maneira tranquila, sem muita pressa, e isso acabei gostando muito, senti tranquilidade para agir”, completa.

ATENDIMENTO – Um dos destaques foi o dia em que Emanuely Vitória, de 11 anos, tirou o gesso da perna. Sua mãe, Sonia Medeiros Miranda, acompanhou todo o atendimento feito pelos alunos, que estavam acompanhados pelo médico. “Foi muito bom o atendimento, estão de parabéns. O atendimento aqui tem sido muito bom desde o primeiro dia e agora a vida é normal para a minha filha”, comemora.

Luis Miguel Leuch acompanhou o atendimento de Emanuely e afirma que o curso está sendo proveitoso. “A gente consegue fazer alguns procedimentos simples, algumas análises de exames e consegue ter contato com pacientes, o que acho muito interessante”.

O acadêmico do 2º ano de Medicina destaca a atenção que recebe dos profissionais que atuam no Ambulatório. “Eles estão prontos para tirar nossas dúvidas e sempre dão dicas do que podemos ou não fazer, o que conta muito para a nossa carreira”. Para Nathan Nabozny, o Ambulatório é o local onde mais se consegue aprender.  “O nosso foco é ver histórico dos pacientes, checar os exames, além de realizar procedimentos simples, como retirar pontos e fazer curativos”, explica.

Do outro lado do corredor, estava a paciente Cleri Aparecida Gomes, em uma consulta para tratar os últimos detalhes de sua cirurgia no ouvido. O encontro com o médico rendeu análises dos estudantes que estavam na sala.  “Achei muito bom receber esse atendimento, todo mundo dava uma opinião e estudava o meu caso, me senti muito bem”, descreve.

“Temos uma rotina aqui no Ambulatório. Chegamos, acompanhamos toda a rotina do médico de plantão e temos a chance de fazer perguntas sobre as condutas que estão tomando e também fazer perguntas durante a consulta ao paciente”, conta a acadêmica Crisangela Consul. Para ela, a oportunidade de vivenciar o dia a dia de uma pessoa formada é única.

O Centro Cirúrgico do HU também contou com a atuação dos estudantes. Jéssica Mainardes destaca a diferença do aprendizado prático, em comparação com a teoria. “Pudemos conhecer bastante a cirurgia e ver como as coisas funcionam. Isso vai ajudar a suprir uma falta que a pandemia nos trouxe, pois aqui conseguimos fazer várias coisas pela primeira vez”, afirma. A receptividade dos médicos é destaque na fala de Jéssica. “Eles entendem que aqui é um hospital escola e que a gente está aqui pra aprender”.

FAZ A DIFERENÇA – A experiência prática faz a diferença para um futuro profissional, conforme explica o médico Marcos Vinícius Taffarel. “É muito bacana para eles terem esse contato com a parte prática. Aqui a gente conversa e, a cada início de procedimento, damos uma aulinha antes, para eles ficarem a par”, conta.

A experiência também está sendo proveitosa para os profissionais do Centro Cirúrgico, de acordo com o médico. “Eles agregam muito, são muito participativos. Eles se separaram e cada um está indo para uma sala, fazendo algum procedimento. Conversamos antes e depois do procedimento, então está sendo muito bacana”.

Estar ao lado do médico de plantão e “mergulhar” na realidade hospitalar foi um objetivo cumprido para a coordenadora do projeto. “O horário da aula do estudante tem tempo delimitado e aqui nesse curso ele tem a chance de ver a rotina completa, com uma vivência maior”, afirma Elise.

Depois de mais de um mês de experiência profunda para os 35 alunos, a professora vê um saldo positivo. “Temos reuniões semanais, em que cada um apresenta o que está aprendendo, e muitos já querem entrar na lista para o próximo curso”, comemora.

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