Indígenas de Mangueirinha recebem apoio da Seti 03/08/2010 - 17:30

Através do projeto “Atenção à saúde de Mulheres das Terras Indígenas Kaingang de Mangueirinha e Rio das Cobras”, indígenas da região Centro-Oeste do Paraná estão recebendo orientações quanto à prevenção de doenças que podem ser evitadas por atendimento primário.
Por meio de encontros, palestras, dinâmicas e atendimentos, estão sendo repassadas noções a respeito de prevenção e educação em saúde, higiene pessoal, nutrição e bem-estar. Também são repassadas informações sobre aproveitamento integral dos alimentos, alimentação saudável e alimentação complementar, além de visitas domiciliares para orientação em casos específicos. São atendidas em média 30 pessoas por dia, na unidade de saúde de Rio das Cobras. No total, cerca de três mil pessoas são beneficiadas. A unidade funciona 24 horas por dia.
A bolsista do projeto, recém-formada em Nutrição, Deise Bresan, confessa que conviver com uma realidade tão diferente tem sido um grande desafio. “Na faculdade, não aprendemos a fazer plano alimentar para uma população indígena. Estou tendo que estudar para conseguir proporcionar uma forma para que eles se alimentem bem, adaptando isso à realidade da aldeia e, principalmente, sem agredir a sua cultura. O que é bem complicado, porque os hábitos alimentares deles são bem diferentes do que estamos acostumados”, afirma.
A bolsista revela que os principais problemas identificados com relação à saúde das mulheres da comunidade são parasitoses, doenças respiratórias e obesidade. “Temos mulheres adultas muito obesas devido ao alto consumo de carboidrato. Elas também não possuem variedade na alimentação, o que torna um grande desafio para as nutricionistas”, ressalta.

Desafios
A assistente social Ilda Cornelho, que reside na comunidade há um ano e meio, afirma enfrentar muitas dificuldades em função da cultura e da precariedade do local. “Eu sou indígena, sou da comunidade, e ainda assim é difícil trabalhar com as mulheres. O meu trabalho é prestar assistência a essas pessoas, na parte de acompanhamento de documentação para a aposentadoria, RG, CPF, entre outros”, revela.
Na aldeia existem aproximadamente mil crianças. Cada aldeia possui um colégio. Segundo Ilda, é urgente a implantação de um projeto no contraturno escolar para as crianças da comunidade. “Seria necessário um projeto de apoio ao ensino, para construir uma creche dentro da aldeia, isso evitaria que essas crianças ficassem sozinhas. As mães deixam eles em casa e vão para a cidade vender o artesanato, que é a principal fonte de renda delas”, relata.

Início

A ideia de realizar o projeto surgiu do trabalho de mestrado da coordenadora Adriana Masiero, que desenvolveu atividades com as crianças indígenas em Mangueirinha. “Tive vontade de trabalhar com essas mulheres, porque são pessoas esquecidas dentro da comunidade. Além disso, na comunidade kaingang existe uma cultura de que os homens sempre tomam a frente e possuem o direito da palavra”, afirmou a coordenadora do projeto.
A professora ainda contou que no início o contato com as indígenas foi difícil. “Realizamos várias reuniões até estabelecermos certa intimidade. Somente agora começamos o trabalho por área específica: fisioterapia, nutrição e enfermagem”, disse.

Parceria Sebrae

Foi realizada uma parceria com o SEBRAE para oferecer treinamentos a um grupo de mulheres e trabalhar especificamente com o artesanato. “A maioria das mulheres já trabalha com artesanato, vamos ter ajuda de uma designer de Curitiba. Assim nós somamos a técnica à experiência, o que melhora o produto final e agrega valor”, afira Ilma.
A indígena, Maria Luiz, afirma que o artesanato é a fonte de renda para o sustento da família. “As cestas são feitas de taquaraçu. Nós mesmas plantamos, colhemos e fazemos a secagem. Para fazer uma cesta grande, demora em média uma semana, mas fazemos cestas de todos os tamanhos. Vendemos ao valor de R$ 10 e geralmente vendemos na cidade, mas é difícil a venda”, relata.
O projeto faz parte do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF), da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), e é executado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).