Estudo identifica potencialidades de aglomerações produtivas paranaenses 22/09/2020 - 13:46
A distribuição espacial das atividades produtivas pode ser decisiva no processo do desenvolvimento econômico de uma região. Partindo desse raciocínio, os professores do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Augusta Pelinski Raiher e Alysson Luiz Stege, elaboraram um estudo sobre as aglomerações dos setores econômicos da Indústria e de Serviços nas microrregiões paranaenses.
Para os pesquisadores, além de identificar a localização dessas organizações produtivas, é essencial entender os fatores que determinam a formação desses fenômenos empresariais, principalmente em relação à articulação de políticas públicas de médio e longo prazo. Segundo a professora Augusta, no processo de desenvolvimento econômico regional, no período pós-pandemia, o fortalecimento dos aglomerados, por meio de ações direcionadas, pode impactar diretamente na geração de trabalho, emprego e renda.
“Conhecendo essas aglomerações e suas demandas, será possível propor incentivos com foco na competitividade de empresas, que podem ser encadeadas às atividades produtivas já desenvolvidas em todo o território paranaense”, assegura Augusta, sinalizando que, “em seis ou doze meses, sendo executada de maneira eficiente, uma política que valorize esse perfil pode gerar resultados significativos nas várias regiões do Estado”.
A pesquisadora destaca o Setor de Serviços entre os mais desafiadores, uma vez que o estudo apontou uma quantidade pequena de aglomerados nessa área, em termos de especialização produtiva e de nível tecnológico mais elevado. “Parte do desenvolvimento de uma região é decorrente de uma atividade estável e intensa desse setor, que bem desenvolvido, também pode gerar o efeito multiplicador nas questões de emprego e renda, especialmente quando se fala em alta tecnologia, voltada à indústria, à gestão de empresas e à tecnologia da informação”, ressalta Augusta.
De acordo com o professor Alysson, a importância dessas estruturas, tanto industriais quanto de serviços, é a absorção de mão-de-obra local e a aquisição de matérias-primas no entorno, atraindo a instalação de novas empresas nas regiões vizinhas e ampliando a cadeia produtiva existente. “Os aglomerados geram esses efeitos de transbordamento na região, pois não ficam localizados apenas em uma cidade. Isso contribui para a melhoria na renda dos trabalhadores e trabalhadoras”, salienta.
No pós-pandemia, os recursos públicos e programas governamentais poderão contemplar as atividades econômicas abordadas nessa pesquisa, considerando principalmente as limitações financeiras. “Por isso, a importância de conhecer onde estão localizados os aglomerados para que os recursos públicos sejam aplicados de maneira assertiva e eficiente”, frisa o pesquisador.
O estudo dos professores da UEPG subsidiou o diagnóstico realizado pela Superintendência Geral de Ciência Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná (Seti), no desenvolvimento de uma proposta de ações estratégicas, visando à retomada econômica gradual e responsável do Paraná, no período pós-pandemia. O documento foi enviado no início de setembro para apreciação do governador Carlos Massa Ratinho Júnior.
INDÚSTRIA – Segundo a pesquisa, das 39 microrregiões do Paraná, pelo menos 33 apresentam concentração de aglomerações industriais, sendo a maioria nas microrregiões de Curitiba (12), Londrina (10) e Maringá (10). Em relação à segmentação, há predominância de fabricação de produtos alimentícios e bebidas (14 microrregiões); de confecção de artigos do vestuário e acessórios (13 microrregiões); de fabricação de produtos de madeira (11 microrregiões); e de fabricação de produtos de minerais não metálicos (10 microrregiões).
O estudo aponta, ainda, que os aglomerados com maior intensidade tecnológica se restringem a algumas microrregiões, a exemplo da fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática e da fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações, ambos com apenas uma aglomeração na microrregião de Curitiba. Para os pesquisadores, isso indica que, no Paraná, as maiores concentrações dessas organizações são de indústrias de baixa tecnologia.
Os professores da UEPG também identificaram os núcleos de desenvolvimento setorial-regional, que se caracterizam pela elevada importância regional e, ao mesmo tempo, pela relevância na estrutura industrial do Estado. Apenas três microrregiões do Paraná apresentam esses moldes: Apucarana, com a fabricação de móveis e indústrias diversas; União da Vitória e Guarapuava, com a fabricação de produtos da madeira.
Foram identificados, ainda, 28 conjuntos de empresas com elevado peso relativo no Estado, porém pouco expressivas, em termos da estrutura produtiva local. Nessa categoria, chamada pelos pesquisadores de vetores avançados, o estudo destaca a microrregião de Curitiba com elevada densidade industrial e pequena especialização em alguns segmentos, tais como: fabricação de produtos têxteis; fabricação de produtos de madeira; fabricação de celulose, papel e produtos de papel; fabricação de produtos químicos; fabricação de artigos de borracha e plástico; fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias; entre outros.
A pesquisa também mensurou o montante importado pelas empresas, que tende a estar relacionado à produção das respectivas aglomerações, demonstrando oportunidades de fortalecimento dessas organizações, mediante encadeamento mais robusto, por meio da produção local de bens intermediários para suprir as indústrias existentes.
SERVIÇOS – Maior empregador da economia brasileira, o Setor de Serviços compõe boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Paraná, comprovando o potencial e papel estratégico dessa área no desenvolvimento regional. Os subsetores indutores do desenvolvimento do setor de serviço (SIDS) tendem, inclusive, a se localizar em aglomerados industriais, estimulando a formação de capital humano.
Cerca de 20 microrregiões paranaenses têm algum tipo de aglomeração dos SIDS, sendo Curitiba e Maringá com o maior número de aglomerados (oito, cada uma), seguidas por Londrina e Foz do Iguaçu (sete em cada). Os subsetores presentes no maior número de microrregiões são os seguintes: Transporte Terrestre (13); Educação (12); Saúde e Serviços Sociais (11); e Intermediação Financeira (10).
O estudo apontou as potencialidades em termos de futuros aglomerados, mensurando os “embriões de aglomeração” dos SIDS. Alguns segmentos indicam setores que têm certa especialização regional, entretanto ainda não apresentam um número expressivo de empresas. É o caso de seguros e previdência complementar, nas microrregiões de Campo Mourão e Pato Branco; transporte aquaviário, em Toledo e Foz do Iguaçu; transporte aéreo, em Foz do Iguaçu; entre outros.
“Fomentar as cadeias produtivas locais nesses aglomerados é a melhor maneira de promover desenvolvimento regional sustentável, ou seja, atrair novos negócios que se conectem a essas atividades, para promover um efeito multiplicador intenso na geração de trabalho, emprego e renda”, conclui a professora Augusta.
Clique aqui e confira a pesquisa na íntegra.