Estudo avalia efeitos de antibióticos em animais de produção 11/08/2015 - 11:17

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Uma pesquisa sobre os efeitos dos antibióticos na flora intestinal de equinos ganhou destaque na comunidade científica de veterinária no exterior. O estudo, de pós-doutorado, "Avaliação dos efeitos de antibióticos em animais de produção" - bovinos, suínos e aves, foi desenvolvido pelo pesquisador Márcio Costa, graduado em Medicina Veterinária na UEL.

Ele cursou residência e PhD na Universidade de Guelph, no Canadá. Depois de seis anos no exterior, Márcio Costa está de volta a UEL como pesquisador convidado do programa "Jovens Talentos" da Capes e para concluir seu pós-doutorado no programa de pós-graduação de Ciência Animal, do Centro de Ciências Agrárias (CCA).

No programa de pós-doutorado, Márcio Costa está desenvolvendo pesquisa sobre "Avaliação dos efeitos de antibióticos em animais de produção" - bovinos, suínos e aves. Segundo ele, ao contrário do que muitos pensam, os animais de produção de carne para consumo humano não recebem hormônios para ganhar peso. "O uso de hormônios para essa finalidade é proibido no Brasil, mas a administração de antibióticos é usada no Brasil e nos Estados Unidos desde os anos de 1940, quando os produtores descobriram que antibióticos em doses baixas faziam os animais ganharem peso", explica Márcio Costa.

Ele acrescenta que em alguns países da Europa esse procedimento é proibido e nos Estados Unidos existe uma tendência à proibição, mas no Brasil essa prática é comum em animais de produção para promover ganho de peso. O pesquisado ressalta que o uso de antibióticos com esta finalidade tem gerado muitas controversias. "Uma delas é que existe resíduo de antibióticos na carne que consumismo e que isto pode trazer impacto para nosso organismo causando alterações em nossas bactérias. Outra linha defende que a quantidade é muito pequena para causar danos à saúde humana", observa Márcio Costa.

O pesquisador destaca que existe uma teoria que aponta um aumento da obesidade na população a partir dos anos de 1940 que coincide com o início do uso antibióticos em animais de produção. "É importante esclarecer que se trata de uma teoria, o que está comprovado cientificamente é que ao administrar diariamente antibióticos em concentração baixa em animais de laboratórios faz com que eles ganhem peso". Entretanto, existem outros estudos que correlacionam o uso de antibióticos por mulheres durante a gestação a uma tendência maior de obesidade na criança.

MULTIRRESISTENTES - Ainda dentro do quadro de possibilidades, Márcio Costa ressalta que há outra teoria que relaciona o surgimento de bactérias multirresistentes a essa prática. "As bactérias são muito inteligentes no sentido de adaptação e desenvolvem mecanismos de resistência a fatores ambientais que podem agredi-las, algumas desenvolvem resistência ao frio, ao calor e a certos antibióticos. Por exemplo, quando foi descoberta a penicilina, o próprio cientista que a descobriu previu que um dia as bactérias se tornariam resistentes ao medicamento".

Para uma melhor compreensão, o pesquisador esclarece usando a seguinte equação: "Vamos supor que temos aqui 100 bactérias, duas delas possuem genes resistentes ao antibiótico X, quando eu administro este antibiótico ao animal, 98 bactérias morrem e duas vão permanecer vivas, essas duas vão se multiplicar e teremos 100 bactérias resistentes ao antibiótico X".

Outro problema apontado por Márcio Costa está relacionado ao meio ambiente. "Como a maioria destas bactérias se encontra no intestino, quando os animais defecam essas bactérias multirresistentes se espalham no meio ambiente e isso pode contaminar as áreas de produção agrícola ou até mesmo as pessoas que têm contato com esses animais. Se isso está ou não relacionado com o aumento de bactérias multirresistentes em ambientes hospitalares é algo que ainda precisa ser melhor investigado cientificamente", observa.

Segundo o pesquisador, o uso de antibióticos em animais de produção tem provocado muitas controversias. "Entretanto, a pesquisa que estou desenvolvendo tem um foco mais direcionado. Estamos trabalhando com três espécies: bovinos, suínos e aves e dentro de cada espécie temos um grupo de controle que está recebendo ração sem antibiótico e outro que recebe a mesma ração, porém com antibiótico. Depois fizemos o sequencimento genético das bactérias dos dois grupos para avaliar as consequências causadas pelo uso de antibióticos".

O experimento com aves e suínos foi realizado na Fazenda Escola da UEL e com bovinos foi desenvolvido em uma fazenda da região. "Já o sequenciamento do DNA das bactérias foi feito no Canadá porque exigiu o uso de alta tecnologia. Nós temos essa tecnologia disponível aqui no Brasil, mas no Canadá os custos são mais reduzidos e, além disso, utilizamos um protocolo desenvolvido naquele país".

EXCELÊNCIA " A pesquisa encontra-se em fase final de cruzamento de dados e tem supervisão do professor Amauri Alfieri, atual pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Ele destaca a importância deste estudo para o programa de pós-graduação em Ciência Animal que tem conceito 6 na Capes, conferindo-lhe o nível de excelência. "Esse vínculo internacional entre a UEL a Universidade de Guelph, no Canadá, é importante para o programa e nós precisamos disso para melhorar ainda mais nossa qualidade", ressalta o professor. "Essa inserção internacional também é muito profícua para a UEL", acrescenta.

Serviço

Laboratório de Pós-Graduação do CCA " (43) 3371-4709.