Com reforço na fiscalização, aves silvestres são a classe mais atendida no CAFS de Guarapuava 12/05/2023 - 12:40

A similaridade dos casos chamou a atenção de Pitanga, cidade da região Central do Paraná. Em menos de uma semana, entre os dias 4 e 8 de maio, uma coruja-do-diabo e uma coruja-orelhuda, ambas feridas, foram resgatas por técnicos do Instituto Água e Terra (IAT) e encaminhadas para internamento no Centro de Apoio à Fauna Silvestre (Cafs) de Guarapuava.

Ocorrências que reforçam uma estatística cruel: dos 762 animais que deram entrada do complexo veterinário entre outubro de 2020 e maio deste ano, 538 eram aves – 70% do total. O IAT é responsável pelo gerenciamento dos Cafs no Estado. Em Guarapuava a estrutura funciona dentro da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

Para a médica veterinária do setor de Fauna do IAT, Tassia Mariane Merisio, são três os principais motivos que deram origem ao salto no número de aves resgatadas na região Central do Estado: rigor na fiscalização com o aumento da apreensão policial contra o tráfico de animais; entrega voluntária a partir da posse irregular do animal e sensibilização da população para denunciar irregularidades.

A predominância de aves no Cafs chamou a atenção da acadêmica de Ciências Biológicas da Unicentro, Cássia Carolina de Oliveira Leite. Ela elaborou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em torno do tema – tese apresentada e defendida com sucesso em março deste ano. De acordo com o trabalho, 804 aves que sofreram algum tipo de violência ou acidente foram encaminhadas ao Cafs de Guarapuava entre 2018 a 2022.

Dessas, aponta Cássia no TCC, 302 chegaram com algum comprometimento de saúde, sendo que 89% apresentaram ferimentos por projéteis, atropelamento, corte e fratura nas asas e em membros pélvicos e politraumatismo. Apenas no ano passado, 204 aves deram entrada no CAFS de Guarapuava, um aumento de 132% em relação a 2018 (88 casos), quando a bióloga começou a pesquisa.

“Há duas problemáticas: a primeira é que o ser humano, por vaidade, tira a ave do seu habitat natural. A segunda é que as aves são indicadoras de qualidade ambiental, além de dispersar sementes e ajudar a preservar o meio ambiente”, explica Cássia.

“Diversas espécies são muito visadas, seja pela beleza das penas ou pela beleza do canto, o que impacta diretamente no tráfico”, diz Tassia Mariane, veterinária do IAT. “Há casos, por exemplo, dos papagaios que despertam interesse pela habilidade de vocalizarem e por repetirem as nossas falas, isso é um chamariz para o crime”.

Coordenador do CAFS de Guarapuava, o professor Rodrigo Antônio Martins de Souza destacou que a parceria entre o Cafs e IAT, formalizada em 2021, também possibilitou ampliar o atendimento a animais de uma maneira geral, especialmente aves. “A partir do convênio, nós pudemos receber os animais que são resgatados para além do Batalhão da Polícia Ambiental-Força Verde, com participação do próprio IAT e também da população civil”, reforça.

RISCO DE EXTINÇÃO – De acordo com o TCC de Cássia, sete espécies de aves classificadas com risco de extinção em nível nacional foram tratadas pelo Cafs: Tatuató-pintado (Accipiter poliogaster), Gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus), Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), Araçari-banana (Pteroglossus bailloni), Ema (Rhea Americana) e Coruja-listrada (Strix hylophila).

Já em nível estadual as espécies que correm mais risco são: Tauató-pintado (Accipiter poliogaster), Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), Araçari-banana (Pteroglossus bailloni), Murucututu (Pulsatrix perspicillata) e Ema (Rhea americana). “O comércio ilegal e tráfico de aves é uma atividade que existe há muito tempo no Brasil e precisa ser combatida. Os números reforçam isso”, afirma a bióloga.

COMO AJUDAR – Ao avistar animais machucados, ou vítimas de maus-tratos, tráfico ilegal ou cativeiro irregular, entrar em contato com a Ouvidoria do Instituto Água e Terra, ou com Batalhão de Polícia Ambiental Força Verde, da Polícia Militar do Paraná.

Se preferir, o cidadão pode ligar para o Disque Denúncia 181. Informe de forma objetiva e a precisa localização e o que aconteceu com o animal. Quanto mais detalhes sobre a ocorrência, melhor será a apuração dos fatos e mais rapidamente as equipes conseguem fazer o atendimento.

Confira o gráfico:

Registro de Entrada de Aves no Cafs

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