Pesquisa paranaense analisa modificações genéticas do novo coronavírus

16/02/2021
Um estudo inédito investiga as características genéticas do novo coronavírus, relacionadas às diferentes manifestações clínicas em pacientes infectados, assim como os fatores de resistência e suscetibilidade à Covid-19. A pesquisa está vinculada ao Projeto Genoma Covid-19, conduzido pela Rede de Estudos Genômicos do Paraná, no âmbito do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Genômica. O projeto reúne mais de 200 pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas. Segundo o coordenador do Curso de Medicina da Unicentro, médico e professor David Figueiredo, a pesquisa tem como objetivo contribuir para a compreensão dos mecanismos genéticos que regulam essa infecção viral, auxiliando nas decisões médicas e nas condutas terapêuticas mais apropriadas para os pacientes.// SONORA DAVID FIGUEIREDO.// Até meados de outubro do ano passado o Paraná havia sequenciado o genoma do novo coronavírus em 10 amostras de pacientes acometidos com a Covid-19. Com o desenvolvimento da pesquisa foi possível ampliar a investigação, aumentando esse número para 78 amostras. O estudo revelou que 11% dessa amostragem pertencem à linhagem identificada como P.2, detectada oficialmente no Rio de Janeiro. Com ampla circulação no Brasil, as alterações genéticas dessa cepa podem potencializar a velocidade de transmissão do vírus. As amostras analisadas nessa primeira fase são oriundas de Curitiba e Londrina. Nas próximas etapas a pesquisa deve contemplar amostras de pacientes de Cascavel, Foz do Iguaçu, Maringá e Ponta Grossa, com possibilidade de alcançar até 300 pessoas. O pesquisador Wilson Araújo Silva Júnior, geneticista e diretor científico do Instituto para Pesquisa do Câncer, em Guarapuava, onde o estudo está sendo desenvolvido, disse que uma das mutações identificadas pertence a uma amostra coletada em outubro de 2020, enquanto as demais já em 2021.// SONORA WILSON ARAÚJO SILVA JÚNIOR.// A pesquisa paranaense também revelou a presença da cepa inglesa, a VOC Variante SARS-CoV-2, em uma amostra de paciente com manifestação clínica grave. Essa variante, detectada tanto no Reino Unido quanto na África do Sul e no Brasil, tem sido caracterizada por uma disseminação mais rápida que as outras, cerca de 70% mais transmissível. O Projeto Genoma Covid-19 envolve mais de 200 pesquisadores, de 17 instituições de ensino superior, que estudam o comportamento do novo coronavírus em pacientes com quadros clínicos graves, mantidos na UTI com ventilação pulmonar; em pacientes com quadros clínicos moderados, internados na enfermaria; em pacientes curados sem a necessidade de transferência para a UTI; e em pacientes com quadros clínicos leves ou assintomáticos. O superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Nelson Bona, afirma que os resultados desses estudos colocam o Estado na vanguarda do conhecimento científico sobre o novo coronavírus e, em curto prazo, devem orientar protocolos de tratamento e prevenção da doença.// SONORA ALDO BONA.// O Projeto Genoma Covid-19 dispõe de recursos financeiros da ordem de 800 mil reais, sendo metade desse montante viabilizada pelo Fundo Paraná, operacionalizado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O restante do aporte financeiro, de 400 mil reais, tem como fonte o município de Guarapuava, por meio da Secretaria Municipal de Saúde. A pesquisa conta ainda com bolsas de doutorado e pós-doutorado custeadas pela Fundação Araucária e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (Repórter: Rudi Bagatini)