Projeto da UEL propõe a construção de casas para diferentes necessidades 17/03/2016 - 11:36
O projeto ZEMCH – sigla de “Zero-Energy Mass Custom Homes” – reúne esforços de pesquisadores de diversos países em torno da construção de casas que sejam “energeticamente eficientes”, isto é, que possam ser grandes poupadoras (e produtoras) de energia, tanto na sua construção quanto no seu uso. O ZEMCH-Brazil, além da UEL, tem grupos em instituições como a USP, Unicamp e UFRGS. Na UEL, os coordenadores do projeto são os professores Ercília Hitomi Hirota, do Departamento de Construção Civil, e Sidnei Guadanhim, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
O que diferencia o grupo da UEL dos demais grupos do projeto ZEMCH espalhados pelo mundo é que apenas este, além de um mexicano e outro chileno, está ocupado com as necessidades da população de baixa renda, segundo a professora Ercília Hirota. “Os pesquisadores de outros países procuram soluções energéticas próprias para uma realidade de maioria da população de classe média e média alta”, acrescenta.
Os pesquisadores da UEL voltaram sua atenção para a habitação social da população de baixa renda porque o programa Minha Casa Minha Vida 2 introduziu a obrigatoriedade do uso de energia solar em todas as casas para aquecimento de água de banho. De acordo com a professora Ercília, se era para economizar energia elétrica, essa disposição não teve o efeito esperado: demonstrou-se, inclusive através de uma tese de doutorado apresentada na UFSC, que nem toda família sabe usar ou faz uso eficiente desse sistema, que, além disso, é caro. “Muitos moradores acabam retirando e vendendo os equipamentos”. Os pesquisadores passaram a buscar opções que atendessem efetivamente às necessidades das famílias.
O foco do trabalho realizado na UEL é proporcionar a habitação mais eficiente possível – mais eficiente que as dos conjuntos habitacionais atuais – com o mínimo de custo, de forma que o valor das prestações seja compatível com a capacidade de pagamento da família de moradores. Isso inclui a ideia de fazer casas com outros materiais, que não os tijolos e o cimento a que estamos acostumados.
DOIS DIAS - Por isso, a Cohab-LD tem colaborado ativamente com os estudos, fornecendo informações e participando, com seus técnicos, de discussões com alunos e professores. Também a empresa Tecverde, de Curitiba, especializada em sistemas construtivos inovadores e sustentáveis, é parceira do projeto, tendo acompanhado todos os seus passos até agora. Há dois anos, a Tecverde forneceu material para a construção, no Campus, perto do CTU, de uma casa de 43 m2 para fazer uma demonstração da tecnologia alemã de construção a seco, chamada woodframe. A casa foi levantada em apenas dois dias e sua construção não deixou resíduos.
O passo a ser dado agora, com a construção de casas-protótipo que virão a ser habitadas, pretende demonstrar que é possível fazer casas com projetos diferentes, para atender necessidades de famílias diferentes, mesmo num conjunto habitacional dirigido a famílias de renda muito baixa, fugindo à padronização que vigora hoje e que falseia a realidade. Segundo o professor Sidnei Guadanhim, “nós temos esse hábito de fazer milhares de casas iguais nos conjuntos habitacionais, mas como não são adequadas, receberão muitas alterações depois, feitas de acordo com as necessidades e possibilidades de cada morador”.
De acordo com a professora Ercília, análises feitas pelos pesquisadores indicaram a existência de cinco tipos de agrupamentos familiares, o que se traduz por cinco diferentes necessidades, mas todas essas famílias são contempladas, hoje, com casas com a mesma planta. “São, em geral, casas com dois dormitórios. Mas um tipo de agrupamento que encontramos, por exemplo, é o da pessoa que mora sozinha. Talvez ela não precise do segundo dormitório. Em compensação, há famílias com dois filhos de gêneros diferentes, que precisariam ter três dormitórios e recebem essa mesma casa”.
A solução a ser buscada, indica o professor Guadanhim, é fazer a melhor casa possível atendendo requisitos tecnológicos avançados, que a tornem a mais barata possível, mas fugindo à padronização. Ele estima que seja possível fazer uma casa de 50 m2 por um valor semelhante ao da casa de 43 m2 que foi levantada no Campus pela Tecverde. “Com 50 m2, uma casa dessas já pode ter um terceiro dormitório. E, dentro da ideia de customizar, se você conseguir incluir o terceiro dormitório sem elevar o custo da casa, então você poderá fazer, para outra família, se ela preferir, uma varanda, uma garagem coberta ou um segundo banheiro, por exemplo”.
O professor Guadanhim e a professora Ercília enfatizam que, em todos os contatos que têm tido com representantes da indústria e de órgãos como a Cohab-LD, tem ficado clara uma sintonia que significa que o esforço da academia não está tão distante das demandas dos demais setores da sociedade. A professora espera que a parceria continue e que, em breve, as casas-protótipo possam estar erguidas e habitadas.